Este ano aqui no Brasil, a TV completou 60 anos de existência, ela nasceu de maneira heróica e sem grandes produções, num jeito genuíno e aproveitando as ideias trazidas de outro veículo já existente.
Resultado de diversas invenções, ela surgiu na década de 1920, mas só chegou ao nosso país em Agosto de 1950.
A televisão faz parte do que chamamos de Meios de Comunicação de Massa que são aqueles que atingem um grande número de pessoas ao mesmo tempo, em lugares diferentes.
Muitos dos programas vistos pelas primeiras transmissões formam oriundas do Rádio. A radiodifusão já exerceu um papel tão importante no campo do entretenimento quanto o desempenho atualmente pela televisão. Na década de 1920 a década de 1940, as famílias se reuniam em volta de aparelhos de Rádio todas as noites. Escutavam peças, novelas, comedias ligeiras, variedades, músicas, e outros tipos de programas. Esse período, chamado algumas vezes de FASE ÁUREA DO RÁDIO, terminou com a ascensão da televisão na década de 1950.
Muitos profissionais da televisão vieram do rádio. Exemplos não faltam: Walter Forster, Cassiano Gabus Mendes, Vida Alves e o Velho Guerreiro, Chacrinha. Então, o grande público finalmente teria a chance de conhecer os donos das vozes que ouvia diariamente.
Programas que outrora eram ouvidos por uma grande audiência nas rádios pelo Brasil a fora, foram ganhando as emissoras e sendo adaptados. Novelas, humorísticos, programas de auditório, todos eles adaptados e, aos poucos, foram criando a cara da televisão brasileira.
O precursor de tudo isso foi o paraibano Assis Chateaubriand e , em Agosto de 1950, ele estava prestes a realizar mais um grande sonho: a inauguração, em São Paulo, da primeira emissora de televisão no país. Ele se quer, se abalou com as dificuldades de como, por exemplo, com a falta de televisores no mercado, ou seja, não havia televisores a venda. Mas Chateaubriand resolveu logo o problema. Prontamente mandou trazer 200 aparelhos de contrabando. Repassou uma parte para lojas e as outras dividiu entre amigos e personalidades, para o presidente Dutra e para a sua secretária. E, então, estava resolvido, por enquanto, o problema.
Estava próximo a pré-estreia que ocorreu mais precisamente no dia 3 de setembro de 1950. Foi transmitido um show de um padre-cantor de origem mexicana, o nome dele era Frei Mojica. Os aparelhos que assistiram ao show do padre-cantor estavam dispostos na sede dos Diários Associados, mas a grande estreia mesmo veio somente depois de 15 dias.
Foi no dia 18 de setembro de 1950 no bairro paulistano do Sumaré que uma multidão se aglomerou nos estúdios. Os lugares dos artistas eram marcados a giz no chão. Colocaram cartolinas com falas dos atores pelo ambiente e anunciaram que nada poderia dar errado, pois o primeiro programa, de fato, seria transmitido ao vivo. Afinal, como sabemos, aparelhos de gravação estavam longe de existir.
Hoje podemos verificar que a TV mudou muito nestes últimos anos, nos seus 60 anos de existência, esta senhora necessita se reinventar para continuar viva.
O real time faz as emissoras ficarem escravas, especialmente do ibope, o qual é o principal responsável por aquilo que vai ao ar, enquanto o programa dá audiência fica, quando não, desaparece. A partir daí o que resta na programação das emissoras, propriamente dita, muitas vezes, são programas de qualidade duvidosa. O que acontece, então, é que se perde a criatividade, e o que resta é a publicidade e os números da audiência, mandando nas programações ao gosto do freguês ibope.
A audiência que antigamente chegava a patamares altíssimos, agora despenca vertiginosamente, ficando muito mais difícil algum programa conquistar audiências monstruosas. Como é o caso do novelista Silvio de Abreu e sua novela “Passione” que vem sofrendo para chegar aos 40 pontos no ibope. Sendo que outrora, outras novelas passavam facilmente dos 50 pontos no ibope.
A Globo já teve novelas com audiência média na faixa de 70% nos anos 70, de 60% na década de 80, entrou em 1991 com os 50% da novela “Meu bem, Meu mal” e, em seguida, com 41% com “O Dono do Mundo” e, agora, convive com 37% de “Passione”. O “Jornal Nacional” por sua vez, chegou a manter uma média espetacular de 70% em 1983, caiu para 64% no ano seguinte e foi declinando e, no início dos anos 1990 foi surpreendido por uma novela mexicana, “Carrossel”. O principal jornal do país foi pego de surpresa pelos meninos de “Carrossel” e baixou para a casa de 40% e, hoje, está aproximadamente em 30%. Outra novidade é que, no passado sempre apareciam concorrentes capazes de consumar um sucesso esporádico, esses espasmos vêm se tornando mais freqüentes. Houve “Pantanal”, da extinta TV Manchete de 1990, houve “Carrossel” do SBT em 1991, e, nesta primeira década do século XXI, a concorrência mais pesada vem da concorrência direta com a TV Record. Existe um declínio histórico na audiência da Globo e, certamente, em cascata, das outras emissoras, e pode-se mesmo apostar que essa tendência irá se acentuar com a instalação e aperfeiçoamento de novas tecnologias como os canais por assinatura, e das mídias sociais em geral, em especial da Internet, oriundas do melhoramento do poder aquisitivo da população.
A história da telenovela é um capitulo a parte, atores, autores, técnicos e muitos outros profissionais fazem da nossa novela um produto de qualidade reconhecida internacionalmente. Servindo, inclusive, de um produto de exportação para vários países. Nossos artistas são admirados em todos os locais do planeta onde as telenovelas são apresentadas. Como exemplo, temos a atriz Lucélia Santos que, devido ao sucesso de “Escrava Isaura” fez muitos países parar, literalmente, com a sua visita. Caso acontecido, especialmente, na Republica popular da China. “Caminho das Índias”, de Glória Perez, acaba de receber um prêmio como melhor produto do gênero no mundo e a ótima atriz Lilian Cabral recebeu, recentemente, a sua segunda indicação ao citado prêmio.
Culpam-se as novas mídias oriundas do advento da Internet por este novo fenômeno. As pessoas estão mais criticas e resistentes aquilo que é vinculado diretamente e, somente, pela televisão.
Hoje, o público mudou radicalmente os seus hábitos de ver televisão. Muitos migraram para a Internet, e os produtores televisivos, também, resolveram se juntar a Rede Mundial de Computadores para interagir com o seu público. Com os seus 60 anos de existência, a TV tenta “casar” com a Internet buscando criar uma cumplicidade e, assim, recuperar a sua popularidade.
Este trecho tirado do site do blog “Todo Canal”, do dia 26/10/10, exemplifica melhor o que queremos dizer:
Os termos do casamento entre internet e televisão dependem do caráter de ambas as partes. Por isso, quando se fala numa parceria bem-sucedida, não se pode deixar de mencionar o “Big Brother”. O reality é, na TV, um jogo aberto, que “se oferece” à apropriação. No seu site, ficam os instrumentos certos para que o espectador tome conta da brincadeira. Formando o silogismo, temos um programa que não é nem carne nem peixe. É tudo junto e misturado: potente na televisão, potente na web, supraterritorial e assistido em todos os horários.
A Globo lançou recentemente três sites impressionantes: o de “Passione”, o de “Ti-ti-ti” e o de “Araguaia”. Seus números não parecem ter limites. Atraem até 263% mais visitantes únicos que aqueles das novelas anteriores. Em setembro, o site de “Ti-ti-ti” teve 2 milhões de visitantes únicos, um teto jamais alcançado por seus antecessores, nem nos capítulos finais de uma novela. Ou seja, a possibilidade de ditar as regras do jogo — como no “BBB” — não é a única isca para carregar o telespectador para a web. As outras são a informação e a brincadeira.
Nos sites das novelas, as seções mais populares são, pela ordem, “Vem por aí”, “Capítulo” e “Vídeos”. O campeão de acessos em “Passione” até agora é a página de “Capítulo” em que Diana descobriu o segredo de Gerson. Foram mais de 1,5 milhões de visitas. Muita gente também está vendo novela na web. “Ti-ti-ti” teve 8 milhões de pedidos para vídeos por mês desde a estréia. Em “Passione”, foram 8,8 milhões.
E o povo gosta muito de responder a enquetes, de opinar. Por exemplo, para “Passione” fizeram um “paredão de suspeitos” da morte de Eugênio (Mauro Mendonça). A equipe de internet, comandada pela especialista Ana Bueno (que também faz o site do “BBB”), criou chaves de disputa entre personagens, dois a dois, para ver quem era o maior suspeito. Os paredões duravam apenas parte de um dia e tiveram perto de 2 milhões de votos. Um “Quem matou Saulo?”, aplicativo em que o internauta exercita sua verve detetivesca, acumulou em
Portanto, fica evidente que a Televisão, especialmente a brasileira, não é mais a mesma. Mesmo que tenhamos consciência que ela ainda reina absoluta, fica evidente que está perdendo e, muito, o seu reinado e necessita urgentemente se reiventar. Ainda que continue a somar o maior número de pessoas a sua volta, como foi o caso do resgate dos mineiros no Chile, o Realitey Show de 1 bilhão de telespectadores, que virou uma espécie de Big Brother Global e foi acompanhado pela Tv por uma audiência similar a de uma final de Copa do Mundo. Perde terreno para as novas Mídias, mas percebemos que ainda assim, a televisão tem a magia de ser a grande Mídia convergente.
Para terminar deixemos este texto do Jornalista Eugenio Bucci, publicado na Revista Veja de 13 de novembro de 1996, para refletirmos mais sobre o papel da televisão nos dias atuais.
“No mundo real, de aço, tijolo e gente, o avião da TAM caiu uma vez só. Foi em São Paulo, bem perto do Aeroporto de Congonhas. Mas na televisão, pelas telas do Brasil inteiro, o mesmo avião se destroçou centenas de vezes. Reconstituições animadas, chamadas de Câmara lenta, tudo se fez para prolongar o horror. Por que é que tem de ser assim?
Existe a resposta cínica: é notória, um desastre com taís proporções merece todo o destaque nos meios de comunicação. Sem cinismo, a resposta não seria tão fácil. Que é noticia ninguém há de negar. Que os cidadãos devem ser informados sobre cada detalhe, também não se contesta. Mas o festival ininterrupto que perpetua o desastre na televisão não tem nada a ver com informação ou noticia. É show. “Soa mórbido, mas é isso mesmo: como o desfile das escolas de samba ou as Olimpíadas, as catástrofes se convertem em show de TV, com a diferença de que o Carnaval e as Olimpíadas soam shows um pouco menos apelativos.”
(Eugenio Bucci, Jornalista, Veja, 13-nov-1996)
Texto e pesquisa, Jornalista Marcelio Oliviera.